Há alguns anos vi essa foto pela primeira vez e, desde então, essa imagem me persegue. Silenciosa e incisiva, me entristece e incomoda. Não me sinto diretamente culpado, mas dói minha consciência. Me importuna muito mais por ter convicção que é a nossa realidade.

Há milhares de crianças miseráveis, esfarrapadas, famintas, sem nenhuma perspectiva de futuro, enquanto canalhas roubam e se locupletam de recursos públicos. A falsidade, o cinismo e a hipocrisia se disseminam por todo nosso país. Uma história que nos envergonha.

Certo dia um amigo me disse que “música é um estado de espírito”. É a pura verdade. Em certos momentos você é rock pesado, em outros uma orquestra sinfônica, em alguns é balada, samba, valsa e assim por diante. Música se ‘encaixa’ de acordo com seu estado interior.

Escrever tambem é um estado de espírito. A inspiração flui de maneira a exteriorizar o que você está sentindo naquele momento. Com toda certeza, o que você está lendo não pode ser chamado de ‘mensagem de Natal’, mas reflete como estou me sentindo há algum tempo.

Hoje li uma daquelas mensagens natalinas emotivas que falam de paz, prosperidade, transformar sonhos em realidade, dias melhores, caridade, fraternidade e afins, nos instando a “fazer a nossa parte”. Muito bonito, mas, “tuas ideias não correspondem aos fatos” (Cazuza).

Ora, há de existir coerência entre o que se fala e o que se faz. Quando um congressista toma uma aeronave da FAB para fazer ‘implante capilar’ no Recife, ou quando a classe política vive no luxo e ostentação me pergunto se o Brasil deles é o mesmo que o nosso. Não, não é.

Aí mesmo onde você mora, em qualquer cidade brasileira, tem gente que se bandeia de um lado para outro em busca de vantagens pessoais. Não têm lado, a não ser seu próprio lado. Dinheiro é poder. Caráter não é nada. Eles, sim, deveriam sentir culpa. Não sentem.

Conheço indivíduos assim. Eles caminham entre nós, conhecem as mesmas pessoas que conhecemos e fingem que são seres humanos. Pessoas comuns os endeusam, sorriem para eles, puxam o saco e adoram aparecer ao lado deles. “Ah, é o doutor fulano de tal”. Bela merda.

E cá estou eu em pleno dia de Natal, levado pela indignação e inconformismo, falando de corruptos, corruptores e apaniguados. Lamento. É a ‘música’ que está ‘tocando’ em mim e ocupando minha mente. Triste. Estou perdendo a esperança no ser humano.

Roberto Corvello
Autor do Artigo “Eu não quero presente. Eu quero futuro